A
maldição hereditária é uma doutrina ensinada em muitas igrejas de que uma
pessoa é castigada pelas ações de suas gerações passadas. Ou seja, as maldições
lançadas ou causadas pela conduta do pecado dos pais, dos avós e de outros
antepassados familiares podem interferir e prejudicar a vida de uma pessoa na
atualidade. Como por exemplo, crises financeiras permanentes e doenças
frequentes podem indicar, segundo a doutrina, maldições hereditárias que devem
ser quebradas.
De
acordo com esse ensinamento, o cristão não é capaz de se livrar desta condição
a não ser que passe por algum tipo de libertação. Portanto, as pessoas são
incentivadas a investigarem os pecados dos pais traçando uma árvore genealógica
da família identificando as pragas e a fazerem sessões de oração e campanhas de
quebra de maldições para romper com o ciclo.
Mas
o que realmente a Bíblia diz sobre a maldição hereditária? O cristão pode ser
vítima de maldições hereditárias?
De
onde vem esse ensinamento?
A
referência bíblica mais utilizada para basear o ensino da maldição hereditária
se encontra nos dez mandamentos, onde lemos:
“Porque
eu, o Senhor, seu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos
filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam, mas faço
misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus
mandamentos.”
(Êxodo
20.5b,6)
O
que o texto está dizendo é que se a mesma iniquidade do pai estiver no filho,
ou seja, se o filho andar nos mesmos degraus de pecado que seus pais, Deus vai
puni-lo de forma justa e imparcial da mesma maneira que Ele puniu o pai. Em
outras palavras, o juízo divino virá sobre homens ímpios e se os seus filhos
continuarem a trilhar o mesmo caminho de pecado, o juízo divino também virá sobre
eles assim como aconteceu com seus pais.
Em
nenhum momento está dizendo que há uma maldição herdada dos nossos pais e
antepassados por causa dos pecados não confessados que eles cometeram ou pactos
de feitiçaria que tenham feito com demônios. E muito menos indica um
processo de libertação para anular e rejeitar os pecados dos nossos progenitores.
Além
disso, se a maldição hereditária existe, não seria injusto sofrer um castigo
por atos errados que nossos antepassados cometeram? Claro sim! E Deus não é
injusto (Hb 6.10).
Porventura,
alguns até podem tentar alegar que se herdamos o pecado de Adão, logo podem
concluir que a maldição hereditária existe. Mas, embora as consequências do
pecado de Adão tenham afetado toda a humanidade, Cristo levou sobre si os
nossos pecados para que por meio dEle fosse retirada toda a culpa (Is 53.4,5;
Rm 5.12-21; 1 Co 15.20-22). Ou seja, quando dizemos que existe uma maldição
hereditária estamos negando o sacrifício de Jesus na cruz.
Os
filhos pagam pelos pecados dos pais?
No
livro de Ezequiel, especificamente no capítulo 18, a nação de Israel levada em
cativeiro para a Babilônia se queixava de Deus falando: “Os pais comeram uvas
verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram” (Ez 18.2). Um provérbio que
citavam na época para dizer algo parecido com “os nossos pais pecaram, e nós é quem
sofremos as consequências”,
Mas
Deus envia o profeta para repreender o povo de Israel, ordenando que esse
provérbio não fosse mais citado, porque cada um precisa assumir as suas
próprias responsabilidades pelo pecado:
“Aquele
que pecar é que morrerá. O filho não será castigado pelos pecados do pai, e o
pai não será castigado pelos pecados do filho. Os justos serão recompensados
por sua justiça, e os perversos serão castigados por sua perversidade.”
(Ezequiel
18.20)
Ao
ler cuidadosamente Ezequiel 18, você perceberá que o texto do profeta fala
sobre três gerações: um homem justo que gerou um filho ladrão e que por sua vez
gerou um filho justo que viu a maldade do pai e decidiu não viver daquele modo.
Portanto, se a maldição hereditária existisse, o ladrão não geraria um filho
justo, mas sim ímpio. Da mesma forma, se antepassados justos livram os filhos de
maldições hereditárias, então o homem justo não poderia gerar um filho ladrão.
Essa
ideia é retomada pelos discípulos de Jesus, pois numa ocasião perguntaram ao
Mestre se a cegueira de um homem era resultado do pecado de um antepassado. Cristo
teve que corrigir o erro deles respondendo: “Nem ele pecou, nem os pais
dele; mas isso aconteceu para que nele se manifestem as obras de Deus”
(João 9.3).
Maldição
hereditária é bíblico?
Mais
uma vez, existem outros relatos, que reafirmam que a doutrina da maldição
hereditária não é bíblica. Por exemplo, o profeta Samuel sempre foi obediente a
Deus, considerado um homem justo. Mas seus filhos mesmo tendo um bom exemplo do
pai, escolheram o caminho mau (1 Sm 8.3). De acordo com o ensino da doutrina,
os filhos de Samuel deveriam ser abençoados porque o seu pai foi justo. No
entanto, não é isso o que acontece e só demonstra que cada um responde por si
perante Deus.
Da
mesma maneira, temos o caso do rei Abias de Judá, que cometeu os mesmos pecados
que seu pai (1 Rs 15.3). Porém, seu filho Asa fez o que era certo aos olhos do
Senhor (1 Rs 15.11-14). Segundo a doutrina da maldição hereditária, Asa teria
que seguir os mesmos caminhos do seu pai e do seu avô; ele deveria ser
amaldiçoado porque seus antepassados foram homens maus. Mas isso não aconteceu
e mostra de novo que cada um é responsável por si próprio.
No
livro de Números 14.13-34, encontramos a revolta do povo de Israel contra Deus
incentivados pelo relato desanimador dos espias incrédulos. Nesta passagem, o
Senhor condenou aquela geração incrédula a morrerem no deserto, mas seus filhos
permaneceram no deserto até que seus pais morreram e assim eles puderam entrar
na Terra Prometida. Observe que os pais foram punidos, mas seus filhos não
herdaram o castigo dos pais.
Conclusão
Portanto,
após essa grande quantidade de histórias bíblicas podemos concluir que maldição
hereditária não existe. É necessário pararmos de interpretar as desgraças das
pessoas (e até mesmo as nossas) como sendo uma consequência dos pecados de
antepassados. Pois isso nos impede de assumir nossa responsabilidade pessoal e
não nos motiva a buscar arrependimento pelos nossos próprios pecados.
Então
não há motivo para você ficar preocupado com o que os seus antepassados
fizeram, porque cada um responde por si. “Assim, pois, cada um de nós
prestará contas de si mesmo diante de Deus” (Romanos 14.12). Além disso, a
obra redentora de Jesus na cruz quebrou toda e qualquer maldição, então quando
você entrega a sua vida para Cristo não há nenhuma maldição sobre você mais. “Agora,
pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Romanos
8.1).
Por
fim, se alguém vier tentar te colocar medo com essa história de maldição
hereditária, fique tranquilo. Diga que você crê que o sacrifício de Jesus na
cruz é suficiente e poderoso para garantir uma vitória duradoura sobre qualquer
tipo de maldição. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele
próprio maldição em nosso lugar — porque está escrito: Maldito todo aquele que
for pendurado em madeiro” (Gálatas 3.13).
Esse
artigo foi esclarecedor? Enriqueça nosso debate com o seu comentário! E siga a
gente no Instagram @GarotasfasdeCristo e no Twitter @_GFDC. Mil Beijinhos…
abileneleite96@gmail.com